quarta-feira, 5 de outubro de 2011

# Críticas (Festival de Curtas de São Paulo)

 "O que mais chama a atenção em Aurora, desde o primeiro take, é a beleza de suas imagens. Roney Freitas é um esteta: num momento de sua carreira (em Laurita), com esteticismo que deixava dúvidas ante o emaranhado da história cedendo a padrões de referência; desta vez (mesmo com similaridades notórias ainda referindo a outras cinematografias, só que desta vez a europeia), deixando com que os teores singelos, ao mesmo tempo que os pungentes, se responsabilizassem mais diretamente ao que deveria ser contado – e ao que restaria de forma mais marcante.
Parece raro nos dias atuais artistas que falem do estreito que jamais cede na relação entre mãe e filhos, ainda mais levando-se a questão a pessoas já bem mais do que somente adultas (Aurora, uma mãe bem idosa, e seu filho já um sexagenário). Roney não só filmou tal momento de re-união, como introduziu o elemento da crença (outro assunto raridade de ser utilizado, como se fazê-lo indicasse carolice), da religiosidade, como uma espécie de caminho “acalmador”, reconfortante. O cenário utilizado, captado com habilidade, dispensou quase que automaticamente alguns processos importantes para a composição de bons quadros: com luz natural inacreditável por boa parte dos momentos, o filme dispensou cuidados exageradamente mais dedicados à pontuação da iluminação, tanto quanto as belezas naturais (incluindo aí as não naturais, as casas, mas belas para a composição desejada) fizeram as vezes de trabalhos de arrumação. Por uma ou duas vezes o diretor passou a impressão que cederia à tentação de fazer desse entorno seu protagonista principal: o que nem sempre é o ideal quando a facilidade para tal é tão ostensiva. Mas ele revelou equilíbrio, e manteve-se firme nas necessidades básicas que o filme indicava.
Necessidades que indicavam a relação entre mãe e filho no período da re-aproximação tendo de ser acompanhada com cuidado, e sabendo-se de sua potência: restaram momentos ternos daí, tanto quanto o inicial, que remetia à desconfiança e tristeza por abandono; restou certeza nos modos como as conversas se deram, e no jeito como os pequenos afazeres se concretizaram (o pedir para que se descascasse uma manga, o preparar o prato de comida...); e não foi esquecida a possibilidade da atitude inédita (senil, necessária, natural?) no final, acompanhada pelo olhar e atitude do que chegara para re-ajuntar. Acima de tudo, um curta bonito e muito bem resolvido em seu período de existência."  
por Cid Nader
no site Cinequanon

"(...) a força de personagens e seu meio em Aurora, de Roney Freitas, autor também de Laurita. Uma introspecção, um tempo paralelo, a energia, a subjetividade...
Mais que isso: o cruzamento de subjetividades, as maneiras de cada um entender a subjetividade alheia, a maneira da própria subjetividade lidar com a do outro. Mundos profundos, trazidos e muitas vezes apenas delicadamente sugeridos na borda do filme, nas margens... Muita poesia...

Começando pelo título, passando pela construção e se encerrando na densidade do tema: morte, que no curta longe de ter o peso da palavra, mas claro de ter a complexidade da situação."
por Quelany Vicente
no blog Diculturices

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